Amores, equivocos e fraquezas

Ando meio hesitante, perdido em solo hostil, onde quem faz as regras ja não tem mais razão de ser.
A desproporção e a maneira com que isso me afeta é extremamente desequilibrada, portanto veja bem: Desproporção desequilibrada sem razão, só existem dois sentimentos que possuem essas características: o amor e o vazio, segundo o qual o vazio pode ser compreendido como desespero, seguindo essa linha de raciocínio chego à conclusão de que somando esses dois sentimentos: Estou amando desesperadamente? possivelmente isso seja verdade, ou talvez não, ou seja, talvez amar seja um equivoco, coisa dos fracos...

Gritar de Paul Éluard

GRITAR

Aqui a acção simplifica-se
Derrubei a paisagem inexplicável da mentira
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos
Ponho-me a gritar
Todos falavam demasiado baixo falavam e escreviam
Demasiado baixo
Fiz retroceder os limites do grito
A acção simplifica-se
Porque eu arrebato à morte essa visão da vida
Que lhes destinava um lugar perante mim
Com um grito
Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer
Nada do que merece viver
Estou perfeitamente seguro agora que o Verão
Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas
Ardem no meu coração as estações
As estações dos homens os seus astros
Trémulos de tão semelhantes serem
E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria
E esse fogo nu que pesa
Torna a minha força suave e dura
Eis aqui a amadurecer um fruto
Ardendo de frio orvalhado de suor
Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham
O tempo está bom gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos
Estou seguro de que a todo o momento
Filha e avó dos meus amores
Da minha esperança
A felicidade jorra do meu grito
Para a mais alta busca
Um grito de que o meu seja o eco.

Paul Éluard, "Algumas das palavras" 1977

A estranheza que me causa

Sinto uma estranheza, sim estranheza, quando ela se aproxima, uma alegria estranha, uma vontade estranha de estar com ela o tempo todo, parece que o tempo pára estranhamente quando ela está por perto. Uma forma estranha de força que abstrai tudo, onde só há espaço pra ela, um tipo estranho de sensação, uma estranha euforia, um arrepio estranho que percorre a espinha. A voz estranhamente doce que atravessa o ar quando ela fala, o perfume delicado no sentido estranho da palavra, eu me sinto estranhamente feliz quando ela está por perto, e o mais estranho de tudo, ela estranhamente não nota essa estranheza toda...

A pergunta que não quer calar

As coisas vêm e vão rapidamente, o brilho de uma chama que se extingue na escuridão, repetidas vezes eu pensei, repensei, refleti, não há uma resposta satisfatória pra nada disso, nada, definitivamente nada se encaixa, por que? como? e se? e talvez ainda o que eu faria se pudesse? Perdi totalmente o rumo, a razão, a poética, já não sei como viver, as coisas acontecem rapido demais, e as pessoas nem percebem, mas eu estou aqui, me debatendo, imaginando o porque dessa decisão tão repentina e súbita, sendo que já havia desistido dessa idéia, mas parece que quase tudo se acertou, menos isso...
Meu Deus, ainda posso ouvir a respiração dela, o olhar, aquele olhar que parece incendiar as coisas, os passos dela, ainda sinto eles vindo em minha direção, como se algo fosse me abrir ao meio, nem sei porque, sei que sinto, mas sinto ao mesmo tempo medo, daqueles olhos, daqueles braços, daquele respirar...
Sinto medo da sua pressa, da sua lentidão, do seu sorriso, das suas lágrimas, na verdade acho que sinto medo do seu coração...
Talvez eu sinta medo de mim mesmo, da minha solidão, daquilo que muitos dizem e que acredito ser ilusão...
Não sei se me faço entender, mas busco quem possa, quem saiba ler, compreender, amar, essa é a verdadeira função do ser...
Já não sei se me amo mais ou se me amo menos, o que sei é que ninguém além de mim, sabe que... eu amo... e amo muito... amo de verdade... alguém além de mim, mas esse alguém ignora que eu ame, mesmo porque... é melhor parar por aqui.

De que me valem as reticências... ?

De que me vale a insistência se nada disso é alcançavel, se sou amordaçado e tentado o tempo todo, se não consigo fazer com que perceba meu esvaziar-me pra me suprir de você?
Isso será perda de tempo? perda de espaço? Vai saber, ás vezes acho que estou perdendo a sanidade, mas você nem considera essa hipotese como válida, aliás, nem há hipoteses a serem consideradas, mas eu sigo meu caminho errante... Sinto muito se na verdade fiz você perder o seu tempo, mas eu sou mesmo perito nisso, além disso... Meus caminhos se abrem apenas em reticências, ou seja, indefinidamente, temporariamente ou eternamente.
Por favor, não beije os meus lábios quando for me dar as costas, na verdade não diga nada, não faça nada, simplesmente me deixe pular de cabeça daqui...
Eu só não sei porque não posso amar você... Não faz sentido... Suas razões são descabidas, mas se você prefere assim, eu me jogo por você, apenas uma vez, pois essa é a quantidade de vezes que eu consigo morrer, e como te disse, viveria e morreria por você. Mas a verdade é que você nem sabe o que eu sinto e nem sabe que é por você...
Algumas pessoas são intocáveis, ás vezes nem elas sabem disso, e ainda ás vezes teria sido melhor ficar em silêncio...

Sem conclusões

Algo incomoda, algo inexplicável ou talvez seja explicável, mas não agora, não hoje.
Hoje eu falo baixo pros que sabem ouvir, sem meias palavras, sem meias explicações, e sem nada a esconder a não ser esse segredo que não posso contar, mesmo sabendo que não tenho mais dúvidas, nem dívidas comigo mesmo...
As palavras não saem, as respostas se confundem com as perguntas e eu só queria voltar pra casa, ou ter alguém pra quem voltar, com minha sinceridade, com minhas palavras, já joguei, mas percebi que não se trata de um jogo, mas sim de dizer a verdade, essa mesma verdade que eu encontrei em algum lugar naquela escuridão tão costumeira, escuridão essa que eu costumava ver somente a brasa do meu cigarro ardendo...
Essa luz apareceu, feriu meus olhos, e não encontro o FOCO, preciso que alguém me guie.
Pois é, meus olhos desacostumaram-se a ver a luz e desde então, eu ando tropeçando por aí...